segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

O holocausto está aqui, mas não o vêem

Adital - "Se soubesse que o mundo ia acabar amanhã,
eu ainda hoje plantaria uma árvore".
(Martin Luther King, Jr.)



Vinte anos depois da catástrofe de Bophal, Índia, mais de 100 mil pessoas sofrem na atualidade de doenças crônicas por causa da contaminação causada pelo escapamento.

Essa data foi estabelecida pela organização PAN International (Pesticide Action Network), para recordar as mais de 16 mil pessoas, falecidas no fato ocorrido em 1984 pelo escapamento de 40 toneladas do gás tóxico metil isocianato, químico utilizado na elaboração de um praguicida da Corporação Union Carbide, adquirida em 2001 pro Dow Chemical. Somente nos três primeiro dias morreram 8 mil pessoas. (1)

No ano de 2000, a fábrica Eveready, da mesma empresa (Unión Carbide Argentina), foi denunciada por enterrar cladestinamente pilhas alcalinas não aptas para a comercialização. O depósito de resíduos tóxicos se encontrava em um prédio no kilômetro 752 da rota 9, na cidade de Jesus Maria, provícia de Córdoba. A fábrica funcionou nesse lugar entre 1965 e 1987, mas desde 1994 está assentada lá a empresa brasileira Iochpe Maxion. Essa firma acordou com Eveready, hoje sob licença da empresa Ralston Purina Argentina S. A., o saneamento do terrano e o traslado dos materiais tóxicos. A companhia Ailinco comencou a remover os resíduos industriais no final de setembro para trasladá-los em caminhões supostamente acondicionados a um prédio de enterramento ou tratamento localizado em Zárate, Buenos Aires. (2)

Cada ano no mundo, cerca de 3 milhões de pessoas são intoxicadas pelo uso de agrotóxicos. Morrem mais de 220 mil por ano. Isso significa 660 mortes por dia, 25 mortes por hora.

O programa de vigilância epidemiológica dos Ministérios da Saúde e da Organização Panamericana da Sapude em sete países da América Central, estima que a cada ano 400 mil pessoas são intoxicadas por praguicidas.

As Nações Unidas consideram que a taxa de intoxicação nos países do sul poderia ser 13 vezes maior que nos países industrializados, pelo qual se declarou os praguicidas como um dos maiores problemas em âmbito mundial. Para 1991, calculava-se que 25 milhões de trabalhadores agrícolas sofreriam um episódio de intoxicação por praguicidas e que esses seriam responsáveis por 437 mil casos de câncer e por 400 mil mortes involuntárias. (3)

DO CAMPO DE GUERRA, AO CAMPO SEMEADO:

"Os agrotóxicos não foram inventados para a agricultura e não foram solicitados pelos agricultores, são um produto da guerra. E hoje quando vemos os problemas causados pelos agrotóxicos, temos que dizer o nome certo: Veneno - Arma Química - Agrotóxico.

Na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha foi bloqueada e os aliados proibiram a importação de salitre chileno e outros abonos nitrogenados que podiam ser utilizador na fabricação de explosivos. Quando terminou a guerra, os alemães tinham um enorme estoque de nitratos, que já ninguém queria. A indústria química os reciclou e os impuseram ao agricultor. Assim nasceram os abonos nitrogenados. A agricultura foi uma espécie de lixeiro para a insdústria da guerra.

Como produto da guerra, eles foram criados para matar o homem, para destruir suas plantações, não para trazer benefício à humanidade. Quando a primeira bomba atômica explodiu, no verão de 1945, viajava em direção ao Japão em um barco americano com uma carga de fitocidas, então declarados como LN 8 e LN 14, suficientes para destruir 30% das colheitas. Mais tarde, na guerra do Vietnã, esses mesmo venenos, com outros nomes, tais como "agente laranja", serviram para a destruição de dezenas de milhares de quilômetros quadrados de bosques e de cultivos.

Também o DDT, usado para matar insetos, surgiu na guerra para combater a malária. Depois da guerra, novamente a agricultura serviu para canalizar as enormes quantidades armazenadas e para manter funcionando as grandes capacidades de produção que haviam sido montadas. (4)

Mais de 500 mil toneladas de praguicidas obsoletos, proibidos ou caducos, acumulam-se em quase todos os países em vias de desenvolvimento e em transição, supondo uma grave ameaça para a saúde de milhões de pessoas e para o meio ambiente". (5)

Nicarágua: Em um engenho, foram necessárias 986 pessoas falecidas pelos efeitos do agrotóxico Nemagón para que a Assembléia Nacional da Nicarágua começasse a se mover. Os resultados são dramáticos. Segundo cálculos, morreram 1383 trabalhadores e nos últimos anos há uma média de 46 mortos mensais. (6)

Argentina: Em Missões, 5 de cada 1000 crianças nascem afetadas por Meliomelingocele, uma malfomação do sistema nervoso central. Em Missões, estima-se que cerca de 13% de sua população tem alguma discapacidade. "Quando vemos que orçamento tem para a América Latina a Monsanto, que tem sua grande agência aqui em Posadas, 30 bilhões de dólares são investidos em agrotóxicos para que uns poucos sejam muito ricos e para que todos os demais sejamos discapacitados". (7)

Ver também os ralatórios da província do Grupo de Reflexão Rural, o relatório "Pachamama" (Ecos de Romang) e "As derivações do caso Portillo" (diário O Dia, Gualeguaychú), ente outros, que geram vergonha e impotência em nosso país.

Paraguai: É o terceiro exportador e quarto produtor mundial de soja. 85% das sementes plantadas pertencem a Monsanto. O ministério de Sapude registrou 430 casos de envenenamento e morte entre os anos 1999 e 2000.

Nesse contexto, talvez o caso mais ressonante no Paraguai seja a morte da criança Silvino talavera, ocrrida em janeiro de 2003 que deu origem ao primeiro julkgamento de produtores, condenados a somente 2 anos de cárcere. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta que de um total de 3 e 5 milhões de casos anuais de agricultores afetados, 40 mil morrem por intoxicações agudas. (8)

Uruguai: O diretor do Registro Nacional de Câncer, do Ministério de Saúde Pública, Dr. J.A. Vasallo, em seu livro Câncer no Uruguai, de 1989, expressa que há um aumento de 64% nos últimos 30 anos. (9)

Brasil: Comprova-se a contaminação transgênica desde Cataratas! Um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (IBAMA) no Parque Iguaçu confirmou que os cultivos de soja transgênica que abundam na sua zona de influência são a causa da contaminação genética de diversas espécies vegetais. O cultivo da soja na zona de resguardo do parque está proibido por lei. (10)

No primeiro semestre de 2004, a China embargou um carregamento de soja proveniente do Brasil, registrava-se contaminação com fungicidas Carboxin e Captan. Esse procedimento, segundo ambientalistas, é comum em exportações para países pobres, quando parte da carga comercial é cheia de grães contaminados. Diante do rechaço da China do produto contaminado, acredita-se que a soja tenha sido adquirida por países com menor poder de impor restrições comerciais, como a Indonésia. No entanto, esse mesmo lote com níveis de contaminação similares poderia estar também na mesa dos brasileiros. (11)

Colômbia: É muito difícil calcular as intoxicações na Colômbia e na América Latina, porque a maioria dos casos não é registrada. As autoridades subestimam as queixas, como ocorre com milhares de intoxicações por fumigações aéreas de Roudup (glifosato) em zonas de cultivos de uso ilícito na Colômbia, em concentrações muito mais altas que as autorizadas para o uso agrícola.

Cabe lembrar a ocorrida em 1967 em Chiquinquirá (Boyacá), Colômbia, que envolveu mais de 500 pessoas, das quais 165 precisaram de tratamento hospitalar e 63 morreram. Intoxicaram-se e morreram dezenas de crianças quando tomaram café-da-manhã com pão elaborado com farinha de trigo contaminada com Folidol (paration).

Peru: a tragédia de Tauccamarca, ocorrida em outubro de 1999, onde 24 crianças foram envenenadas e mortas após ingerir um alimento contaminado com Parathion, praguicida produzido pela multinacional Bayer, 24 crianças morreram na comunidade cusquenha após consumirem o café-da-manhã escolar. A morte foi quase instantânea, em meio as mais atrozes dores. Outras 22 crianças sobreviveram, mas é possível que seus sistemas nervosos tenham ficado seriamento danificados. (12)

As mortes causadas pelo herbicida paraquat da Syngenta (Gramoxone) no mundo são calculadas em milhares. Paraquat tem sido responsabilizado por numerosos problemas de saúde nos países em que é utilizado. Malásia é um dos 13 paíese que o proibiram, mas há 120 que seguem utilizando-o. Em compensação, a UE o aprovou. (13)

Na Costa Rica, desde 1980 e durante duas décadas, tem sido considerado como a primeira causa de envenenamento e responsável de uma terceira parte das mortes de centenas de trabalhadores agrícolas. Não se conhece antídoto nem tratamento eficaz para controlar um envenenamento com paraquat.

Estima-se 85% de casos não registrados, no ano de 2000 752 pessoas foram intoxicadas por praguicidas, das quais 12 foram casos fatais. (14)

Em uma investigação recente sobre a água engarrafada na índia revelou níveis altos de lindano, entre outros praguicidas com o DDT e o malation altamente tóxicos, e por isso foi desencadeada também uma campanha contra a Coca-Cola por vender suas coca-colas contaminadas. Isso na Grã-Bretanha não foi nenhuma novidade, depois de ter acusado à mesma empresa, que sua água mineral Dasani, tinha o dobro de bromato do que o permitido, e de não ser potável e, sim, tirada do encanamento público, desde essa data, essa água engarrafada faz furor na Argentina. (15)

Chile: O lindano, apesar de estar proibido desde 1998 pelo Ministério da Agricultura para seu uso agrícola devido a seus graves efeitos para a saúde das pessoas, segue-se aplicando nas cabeças das crianças para combater a pediculosis. Longe de erradicar o mal, esse praguicida gerou resistência e a pediculosis tornou-se endêmica, segundo reconhecem autoridades do Ministério da Saúde. (16)

México: os índices de câncer no México têm aumentando a partir de 1989, foi registrado como a segunda causa de morte do país. Nesse ano, houve 40.628 mortes (48,2 por 100 mil habitantes). Curiosamente, na cidade de Comitán, onde se criam muitos porcos e na região Costa de Chiapas, o alto índice de pessoas com câncer de estômago coloca a cidade no primeiro lugar em nível mundial nessa doença. Na região, é muito usado o lindano para matar os piolhos e atacar sarna dos porcos. Também se usa o pó que se aplica no milho com o fim de armazená-lo e evitar que entre os insetos ou para que os gurgulhos não estraguem o feijão. Nessa região fronteiriça, são realizadas há anos constantes fumigações sobre os plantios de comunidades indígenas que atingem também casas, animais domésticos, plantações de milho e de café. Grandes populações de abelhas foram eliminadas e, com isso, os produtores de mel. O lindando também contamina altamente os solos, rios, poços, lagoas e águas subterrâneas.

Na Zona Altos, o lindano também é freqüentemente usado pelos promotores da Secretaria de Saúde para a aplicação em crianças de até quatro meses para combater os piolhos de cabelo. A IARC como a Agência de proteção Ambiental dos Estados Unidos (US EPA) classificou o lindano como um possível carcinógeno humano.

Para uso agropecuário, existem três empresas que comercializam lindano: Agromundo, Engenharia Industrial e Idústrias Gustaffson. Cabe destacar que essa última foi comprada em 2004 pela multinacional Bayer, uma verdadeira especialista em envenenamento planetário, e vende o lindano sob o nome de Germate Plus. Além disso, a Bayer havia comprado, em 2001, a empresa Aventis Crop Science, uma fusão de Laboratórios Hélios, AgrEvo e Rhone Poulen. Além de borrifar os indígenas de Chiapas com Baygon. (17)

A empresa Anaversa, em Córdoba, Veracruz, em maior de 1991, causou numerosas mortes por câncer e efeitos crônicos na população; nunca foi efetuada a limpeza do lugar, nem as vítimas foram indenizadas, embora a empresa tenha cobrado o seguro contra acidentes. Um segundo caso é o da empresa formuladora de praguicidas Artivi, em Juchitepec, Estado de México.

Um terceiro caso é o de Teckmen, em Salamanca, Guanajuato, que produziu há décadas inseticidas organoclorados persistentes, gerando problemas de saúde e contaminação ambiental. Em suas intalações, a empresa conserva 84 mil toneladas de resíduos organiclorados que deixou Fertimex mais 45 mil toneladas de enxofre contaminado. Essas e outras substâncias se encontram ao relento. (18)

AS FÁBRICAS DO ESPANTO:

DUPONT: Durante a Guerra Civil dos EUA, fornecia a metade da pólvora usada pelo exército da União, também dinamite. Seguiu sendo um provedor do exército estadounidense tanto na Primeira Guerra Mundial como na Segunda, também colocaborou no Projeto Manhattan, sendo responsável da fábrica de produção de plutônio no Laboratório Nacional Oak Ridge.

Dupont foi, junto com a General Motors, o inventor dos CFC (substâncias que afetam a camada de ozônio).

Em um relatório enviado por Saddam Hussein às Nações Unidas antes da invasão do Iraque, revelou-se que Dupont havia participado no desenvolvimento do programa nuclear iraquiano.

Uma investigação da Agência de Proteção do Meio Ambiente acusou a Dupont de ocultar os efeitos do C-8 (um produto usado para a obtenção do Teflon). Vários estudos sugerem que o efeito acumulativo desse material seja cancerígeno, além de poder provocar malformação durante a gravidez.

BASF: BASF é a a maior empresa química do mundo. De origem alemã, compreende mais de 160 subsidiárias e conta com mais de 150 plantas de produção em todo o globo. Entre seus produtos está a anilina, de efeitos cancerígenos para animais e seres humanos.

IG Farben foi fundado em 1925 com a fusão da BASF, Agfa e Hoechst. IG Farben foi a única companhia alemã com seu próprio campo de concentração, onde morreram ao menos 30 mil pessoas, e muitos mais foram enviados para as câmaras de gás. IG Farben construiu uma grande fábrica em Auschwitz, com uma força de trabalho de aproximadamente 300 mil escravos. O gás Zyklon B que era utilizado nas câmaras de extermínio, era fabricado por Degesch, uma subsidiária da IG Farben, com esse veneno foram executados milhões de judeus, ciganos e soviéticos.

Terminada a Segunda Guerra Mundial, as nações aliadas, durante os Julgamentos de Nuremberg, ordenaram o desmembramento do consórcio.

As empresas sucessoras de IG Farben na atualidade são Bayer, BASF e Hoechst, as que herdaram o total das propriedades de IG Farben não as propriedades penais.

Atualmente, BASF lançou uma campanha publicitária que promove o agrotóxico de nome comercial "Opera" que é um fungicida - um veneno para fungos - que é utilizado nos monocultivos de soja para controlar doenças de fim de ciclo, em particular a ferrugem asiática. A publicidade nos mostra uma criança sorridente, com uma pequena planta na mão e com uma extensa plantação de soja no fundo. A imagem é acoompanhada pela frase "A inovação BASF está aqui para melhorar tua qualidade de vida". O idílico da imagem se distancia muito da realidade que o cultivo de soja e seu pacote tecnológico associado representam para nosso campo e seus habitantes.

BAYER: produziu até a Primeira Guerra Mundial uma droga chamada diacetilmorfina, uma droga viciante, vendida originalmente como tratamento para a tosse, que logo passou a se chamar heroína. A heroína era uma marca registrada da Bayer, até que foi proibida antes da Primeira Guerra Mundial.

Desde 1925 e até 1951, Bayer se converteu em parte da IG Farben, um conglomerado de indústrias químicas alemãs que formaram a base financeira do regime nazista. O Dr. Fritz ter Meer, condenado a sete anos na prisão pelos crimes de guerra pelo tribunal de Nuremberg, tornou-se Diretor-supervisor da Bayer em 1956, depois de sua soltura.

Também é de sua atribuição a criação de agentes químicos como: Gás mostarda (arma química) e tabun (gás nervoso) (19)

SYNGENTA: pesticida assassino e sementes "Terminator":

O Paraquat é vendido em mais de cem países com o nome genérico de "Gramoxone", representa uma parte importante das ganâncias da trasnacional radicada em Basiléia - que em 2006 teve lucro líquido declarado de cerca de 900 milhões de dólares - e "tem causado milhares de mortes".

Nascida em 2000 da fusão das divisões agroquímicas da Novartis suíça e do consórcio algo-sueco AstraZeneca - o Gramoxone segue sendo vendido em todo o mundo e sua expansão não para, como provam as novas instalações que a empresa abriu na China.

Em maio deste ano, diversas organizações da Ásia, África e Europa apresentaram uma denúncia contra a Syngenta diante da FAO. A empresa não respeita seu artigo 3.5 que chama a evitar certos pesticidas extremamente tóxicos. Em julho passado, a Corte de Justiça Européia também se pronunciou contra tal produto.

As plantas do tipo "Terminator" produzem sementes estéreis que não dão mais que uma colheita. Os camponeses não podem voltar a ocupa-las para a semeadura.

Segundo a denúncia de março de 2006 das organizações suíças, "o único objetivo dessa tecnologia é dominar o mercado de sementes e assegurar o controle da alimentação mundial... o que implica uma violação ao direito humano da alimentação". (20) No Brasil, uma milícia armada atacou camponeses em um "campo experimental" da multinacional Syngenta localizado em Santa Teresa oeste. Esse campo foi ocupado e denunciado pelos camponeses, mas às 13:30 do domingo, dia 21 de outubro, foram atacados. Um membro da Via Campesina, Valmir Motta, de 32 anos, pai de três filhos, foi executado com dois disparos no peito. Outros seis trabalhadores rurais foram feridos gravemente. (21)

MONSANTO: acusada de contaminar o povo de Times Beach, as águas do povo Anniston, criado do Aspartame, (Nutarsweet) adoçantes de efeito tônico para o cérebro, não conforme com isso, fornece a ceféina à Coca-Cola.

Pelo seu glifosato Round Up foi condenada ao ser demonstrado seu caráter potencialmente cancerígeno e perturbador ao sistema endócrino, e de "provocar efeitos nefastos para o ambiente a longo prazo. (22)

Hoje seu milho transgênico, aprovado para consumo humano pela EU, dois de seus híbridos que se submeteram a votação incluem a modificação genética Nk603, foi analizado recentemente pelo instituto francês CRIIGEN, que encontrou claros sinais de toxicidade nos dados apresentados pela empresa fabricante, a multinacional Monsanto.

O terceiro dos milhos aprovados, conhecido como Herculex, tem sido repetidamente denunciado, porque as análises realizadas pelas empresas fabricantes, Pionner e Dow, revelaram sinais de toxicidade que exigem novas investigações.

Amigos da Terra, COAG e Greenpeace têm denunciado reiteradamente a Agência Européia de Segurança Alimentar (EFSA) por não exigir mais investigação antes de dar o visto a novos transgênicos e por não levar em consideração as evidências sobre os efeitos prejudiciais" já que enquanto não se produza uma melhora radical da avaliação de riscos dos transgênicos, os procesos de autorização devem ser suspensas. (23)

Na Índia, o Ministério da Agricultura reconhece que, entre 1993 e 2003, ocorreram 100 mil suicídios de camponeses. Entre 2003 e 2006 (outubro), ocorreram 16 mil suicídios a acad ano. No total, entre 1993 e 2006, houve cerca de 150 mil suicídios, 30 por dia durante 13 anos! Milhares de camponeses, cuja forma de vida tem sido destruída, têm recorrido ao suicídio como única escapatória.

Recorreram al algodão da Monsanto buscando reduzir o custo em praguicidas, a armadilha do endividamento lhes veio mais rapidamente porque as sementes do algodão da Monsanto são ainda mais caras. (24)

O DEBATE NEGADO E OS SILÊNCIOS DA IMPRENSA

Essa é uma das principais conclusões que apresenta uma meticulosa investigação realizada pelo Observatório dos Meios da Agência Jornalística do Mercosul (APM), da Faculdade de Jornalismo e Comunicação Social da universidade Nacional de La Plata (UNLP(, da Argentina. Essa investigação desnuda as técnicas manipuladoras da imprensa hegemônica.

Uma medição do Observatório dos Meios da APM constatouque os principais jornais econômicos de Buenos Aires promovem o prigrama que converte a comida em gasolina para os ricos. (25)

A imprensa e os governos se negam a um debate sobre esses temas, negando e ocultando informação, quando, justamente, conscientizando a população evitar-se-ia tantas mortes e haveria um melhor manejo e prevenção sobre os agrotóxicos.

No entanto:

- Vemos na televisão dias atrás um vergonhoso programa de "Um mundo de baixo consumo", aplaudindo os biocombustíveis, mostrando a cultura ianque, e os carros "híbridos", somente acessíveis a Bill Gates. Por que não se realizou no Paraguai, no Brasil ou em Santa Fé mostrando os estragos da soja? Vamos ver se nos presenteiam óleo de batatas fritas em Puerto Madero para o carro, façam fila, por aí têm sorte...

- O mesmo canal levanta uma notícia a realizar-se com integrantes da Ação Ecológica sobre mineração, a hora de realiza-se, seguramente por pressões. (26)

- A corte da província de Catamarca anula um plebiscito sobre um SIM ou um NÃO para a instalação de uma mina de urâncio a céu aberto, esquecendo o artigo 124 de nossa Constituição Nacional, sem levar em conta que o artigo 41, está em "Direitos e Garantias" de nossa Constituição, sim não se deram conta, e que o povo é soberano e eles somente um número, um mero representante desse soberano.

- As crianças nascidas com malformações em Santa Fé e Missões, jamais tiveram uma nota em nenhum jornal de Buenos Aires, alguns jornais locais e as redes ecológicas lutam sozinhas, espondo esses temas e mostrando ao mundo, que, com pavor, repetem as notícias uma e outra vez..., enquanto Argentina: se cala.

O milagre da soja, segundo alguns rafaelinos que escutamos, envergonhando-nos de ser santafecinos, em uma Universidade de Três de Fevereiro, Buenos Aires, falando de arte, lhe agradecem pela soja... pela arte!

Brinden con Round Up, señores... Cuando los plaguicidas maten hasta el último pájaro de los montes que aún nos quedan, no agradecerán ni a Monsanto, ni a Bayer, ni a Syngenta y compañía. Porque estar en el holocausto y no darse cuenta, es ya estar muerto en vida.

Brindem com Round Up, senhores... Quando os praguicidas matarem até o último pássaro dos montes que ainda nos restam, não agradecerão nem a Monsanto, nem a Bayer, nem a Syngenta e companhia. Porque estar no holocausto e não se dar conta, é estar morto em vida.

Fontes:

1-Rebelión "3 de diciembre, Día del no uso de plaguicidas"
2- www.funam.org.ar ," Remueven residuos tóxicos enterrados clandestinamente por Eveready en Córdoba."
3- www.rel-uita.org - "3 de diciembre, Día del no uso de plaguicidas"
4- www.rel-uita.org "Agrotóxicos de la guerra a la agricultura"
5- www.Eco2site.com "Nuevo código para pesticidas"
6- www.nodo50.org "El drama de los agricultores nicaragüenses afectados por el pesticida nemagón"
7-Ecoportal.net "Malformaciones en Misiones por el uso de agrotóxicos"
8- www.lineacapital.com.ar "Cinco de cada mil niños misioneros padecen malformaciones por agrotóxicos"
9- www.ecocomunidad.org.uy "Agrotóxicos hasta en la sopa"
10- Radio mundo real "Brasil: comprueban contaminación transgénica en Parque Iguaçu "
11- www.adital.com.br
12- www.rel-uita.org "3 de diciembre,Dia del no uso de plaguicidas"
13- Ecoportal.net "Syngenta: Contaminación Agroquímica"
14- www.agroecologia.es "3 de diciembre,Dia del no uso de plaguicidas"
15-.www.indymedia.org
16- Diario El clarín Chile
17- Ecoportal.net " Otra amenaza, el Lindano. Niños en peligro"
18- Greenpeace "En el aniversario del accidente de Bhopal, repudian el uso de plaguicidas"
19-Wikipedia.org
20-www.paginadigital.com.ar "La transnacional suiza Syngenta en la mirilla"
21- Anred org "Brasil: milicias armadas de Syngenta atacan a campesinos"
22-Ecos de romang "Doctor¡grítelo mas fuerte!"
23- www.amigosdelatierra.org "Ecologistas y agricultores denuncian que la UE aprobará tres transgénicos potencialmente peligrosos con el voto favorable de España"
24-Ecoportal net
25- Biodiversidala."Los silencios de la prensa argentina: ¿por qué no debaten sobre Agrocombustibles?
26-Bolsonweb.com.ar "Canal 13 cancela una nota con un ecologista chubutense"
27- Página12 "La consulta popular sobre minería que fue impedida por la Justicia".

Por Graciela Cristina Gómez

[Tradução do español: Adital]

Original: [ADITAL] Agência de Informação Frei Tito para a América Latina

domingo, 9 de dezembro de 2007

...

"Como pôde desenvolver-se a ideia de que a mensagem de Jesus é estritamente individualista e visa apenas o indivíduo? Como é que se chegou a interpretar a «salvação da alma» como fuga da responsabilidade geral e, consequentemente, a considerar o programa do cristianismo como busca egoísta da salvação que se recusa a servir os outros?" (Papa Bento XVI, Carta Encíclica SPE SALVI)

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Documento acena para reunificação de católicos e ortodoxos

O Vaticano divulgou no final da manhã desta quinta-feira um importante documento que poderá indicar o caminho da reunificação entre católicos e ortodoxos, separados desde o cisma de 1054 – a ruptura formal da unidade da igreja cristã em Igreja Católica Apostólica Romana e Igreja Católica Ortodoxa.

Dividido em 46 pontos, o texto fixa definitivamente o reconhecimento do papa como "primeiro patriarca", Roma como a "primeira sede" e indica temas a serem aprofundados futuramente para superar as divisões do passado.

"É o primeiro passo importante, mas a estrada para a plena unidade ainda é muito longa", disse o cardeal Walter Kasper, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, em entrevista à Rádio Vaticana.

A departamento presidido por Kasper é o órgão da Igreja Católica que compõe a administração da Santa Sé com função de buscar iniciativas oportunas para reunificar os cristãos.

O novo documento é fruto do encontro realizado em Ravenna, no norte da Itália, em outubro, com representantes da Comissão Mista para o Diálogo Teológico entre Católicos e Ortodoxos, coordenada pelo cardeal Kasper e por Ioannis Zizioulas, metropolita (arcebispo) de Pérgamo e membro do Sínodo do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla.

Prerrogativas

No ponto em que os ortodoxos reconhecem o primado do papa, em seguida vem esclarecido que ainda devem ser definidas suas prerrogativas no âmbito da comunidade eclesial. Isso significa que ainda precisam ser resolvidas as divergências sobre os poderes do papa, o principal obstáculo para a reunificação.

Três conceitos fundamentais são descritos no texto de forma pontual: comunhão eclesial, conciliaridade ou sinodalidade e autoridade.

Católicos e ortodoxos concordam que o bispo é quem comanda a igreja local. Também reconhecem que a "única e santa Igreja" se realiza contemporaneamente em cada igreja local, onde se celebra a eucaristia, e na comunhão de todas as igrejas.

Há também acordo sobre a estrutura da Igreja universal. No nível local, a autoridade é o bispo. No âmbito regional, os bispos de cada província devem reconhecer que existe um protos (primeiro em grego) entre eles.

O plano global ainda deverá ser aprofundado, já que o documento diz que aqueles que são os "primeiros" nas diferentes regiões devem cooperar, junto com todos os bispos, naquilo que concerne à totalidade da Igreja.

"Os bispos não devem ser unidos apenas na fé, mas têm em comum a mesma responsabilidade e o mesmo serviço na Igreja", diz o texto sobre a concordância ecumênica, acrescentando que os concílios são o "instrumento principal" por meio do qual se expressa a comunhão da Igreja.


Totalitarismo

Segundo o vaticanista Marco Politi, "o mundo ortodoxo esclarece que o papa – nomeado no texto como bispo de Roma ou como um dos cinco patriarcas históricos – não pode ser um soberano totalitário, que decide sozinho".

"Joseph Ratzinger também já afirmou, no passado, que o pontífice não pode se comportar como um monarca absoluto", diz Politi.

"Este documento é um modesto primeiro passo e como tal dá esperança, mas não podemos exagerar a importância", afirmou o cardeal Kasper.

"Na próxima vez, deveremos analisar o papel do bispo de Roma na Igreja universal no primeiro milênio, depois deveremos falar também do segundo milênio e do Concílio Vaticano 2º", acrescentou.

No final do texto, os participantes do encontro de Ravenna dizem estar convictos de que as declarações sobre comunhão eclesial, conciliaridade e autoridade definidas por eles representam positivo e significativo progresso no diálogo.

Afirmam também que o documento oferece uma base firme para futuras discussões sobre a questão do "primado" no nível universal na Igreja.

O documento não conta com a adesão da Igreja Ortodoxa Russa, que abandonou a reunião de Ravenna em protesto contra a presença de representantes da Igreja Apostólica da Estônia, que não é reconhecida pelo Patriarcado de Moscou.

De acordo com o cardeal Kasper, esse é um assunto que deverá ser resolvido entre Constantinopla e Moscou. No entanto, ele diz estar preocupado porque considera importante a participação da Igreja Ordodoxa Russa no futuro do diálogo.



Valquíria Rey
De Roma

Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/11/071115_catolicosortodoxosvr.shtml

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Ideologia, eu quero uma pra viver (?)

"Ideologias nos separam, sonhos e angústias nos unem". (Eugène Ionesco, dramaturgo)

Cristãos inoperantes

Cresce, a cada dia, minha inquietação com algumas expressões da cristandade ocidental.

Noto, por um lado, uma piedade desencarnada, sem relevância diante da vida, destituída de racionalidade e pobre de bom senso.

Percebo, por outro lado, uma espiritualidade cheia de boa vontade, recheada de “profetismos” e indignações, mas impotente e que pouco contribui na construção da história.

Minhas intuições mais primitivas me mostram algumas coisas. Antes! De antemão, já sei que estou perdendo uma grande parcela de pensadores cristãos que não valorizam as intuições no exercício teológico. Tudo bem. Adianto apenas que, ao falar de intuição, valho-me de meu berço pentecostal que me autoriza a também pensar com as entranhas.

Vamos aos meus “insights”:

1. Sugiro que se considere o livro de Eclesiastes como um dos principais eixos hermenêuticos para se compreender a Bíblia. Ele precisa ser levado mais a sério. Enquanto os evangélicos não tiverem coragem para encarar a vida com suas contingências, aleatorieades e com o porvir em aberto, não tem jeito, eles permanecerão de mãos atadas para transformar a realidade.

O pretenso axioma de que o fim da história já está pronto, levará, por mais que se diga que não, a um fatalismo. Ora, se a história segue por trilhos que a Providência estabeleceu antes da fundação do mundo, mesmo que cruzemos os braços (postura que só nos traria prejuízo, aquiesço) ela chegará ao seu destino sem depender de nós. Esta compreensão, mesmo que sutilíssima, gera inoperância.

Qual o futuro do Brasil? Se ele já estiver pronto, se já for conhecido plenamente, (não como possibilidade, mas como realidade) aqueles que não cooperarem, só perderão a oportunidade de serem participantes, porque o Brasil se transformará no que tiver de ser. Claro que existe um certo conforto em pensar no futuro como algo já determinado, e essa acomodação estanca a verve transformadora.

2. Percebo que alguns têm medo de rever seus conceitos de soberania divina; apavoram-se com a possibilidade de estarem diminuindo suas convicções teológicas e sentimentais sobre a onipotência divina. Nada mais próximo do sacrilégio, para alguns. Esses, sem conseguirem criticar a compreensão do senso comum sobre soberania divina, repetem que tudo está sob o controle absoluto de Deus e que nada acontece sem que ele tenha um propósito.

Assim, estabelecem como verdade, mesmo sem perceberem, que todos os mínimos detalhes e todos os acontecimentos e desdobramentos do que existe é parte de um plano cósmico.

Favelas? Desgraças mundiais? Terrorismo? Estupros? Tudo, absolutamente tudo, afirmam resolutos, faz parte da vontade de Deus e redundará em glória para o seu nome. Eu, porém, atrevo-me a dizer outras coisas sobre o assunto. Acredito que nem tudo o que acontece foi previsto, antecipado ou participa de uma intricada engrenagem celestial.

Na minha opinião, a injusta distribuição da riqueza mundial, os gastos exorbitantes com armas e bombas, a cultura do acúmulo, do desperdício e do consumismo e até o moderno mito do progresso que destrói os ecossistemas, não têm nada a ver com Deus. Ele não pode pagar a conta do nosso egoísmo, da nossa perversidade e da nossa indiferença. A não ser que os evangélicos abandonem seus pressupostos deterministas da história, a ação cristã permanecerá à margem dos verdadeiros processos de mudança da realidade.

3. Noto que a doutrina da salvação (soteriologia) cristã joga para depois da morte, o processo que deveria salvar as pessoas para dentro da história. Cristo não salva apenas para garantir um "pós sepultura" de alegrias perenes. Ele deseja que seus discípulos experimentem, no quotidiano, uma qualidade de vida já contaminada de eternidade. A alvissareira mensagem evangélica anuncia que não basta salvar indivíduos de si mesmos, eles precisam ser salvos para o próximo; não basta salvar indivíduos do diabo, eles precisam ser salvos para não demonizarem suas relações sociais; não basta salvar os indivíduos do mundo, eles precisam ser salvos para voltar ao mundo e salgá-lo.

Enquanto não se criar coragem para repensar alguns pressupostos aceitos como dogmas e sem reflexão crítica, os cristãos continuarão se indignando com a morte de crianças, continuarão engrossando o coro dos revoltados, continuarão esmurrando mesas sagradas, mas pouco contribuirão para mudar a existência.

Religião só tem sentido quando afirma que o mundo não está do jeito que deveria; e o verdadeiro cristão precisa querer mudá-lo.

Quem se atreve?

Soli Deo Gloria.
Ricardo Gondim

sábado, 15 de setembro de 2007

Sinais

"De tanto que pedi sinais a Deus, eu deixei de me ler. Deus não concede sinais. Deus é analfabeto. Não precisa ler para entender, entende antes da leitura. Ele escuta o que pensamos. Escuta até o que deixamos de pensar. Nós é que precisamos escrever para provar que existimos e ler para ter uma segunda chance". (Fabrício Carpinejar, poeta)

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

"O Cristianismo irrita muita gente"

Para Hans Küng, a religião hoje é novamente um fator de poder. Existe uma grande afluência ao islã e ao budismo, mas não ao cristianismo. Em entrevista à DW-WORLD.DE, o polêmico teólogo suíço aponta os motivos.


DW-WORLD.DE: Temas religiosos novamente despertam um enorme interesse das pessoas, não só na Alemanha. Pode-se falar de um retorno das religiões?

Hans Küng: Retorno das religiões – isso é uma expressão ambivalente. A religião nunca havia sumido. Como a música, a religião é algo que permanece, mesmo que por um certo tempo seja suplantada. É certo que, desde o ressurgimento do islã, desde a fundação da República Islâmica do Irã em 1979, os europeus se conscientizaram de que não determinam o mundo sozinhos. Durante muito tempo, a Europa secularizada não percebeu que é um caso especial e que a religião em outros lugares é um poder.

DW: "Não haverá paz entre as nações sem paz entre as religiões! Não haverá paz entre as religiões sem diálogo entre as religiões." Essas são duas frases centrais do princípio do etos mundial, elaborado pelo senhor. Na era da globalização, há possibilidades inimagináveis de comunicação via internet. Esse desenvolvimento pode melhorar o diálogo entre as religiões?

HK: Em princípio, eu diria que sim, mesmo que isso implique uma série de problemas. É positivo que hoje possamos estar bem informados sobre outras religiões. Uma outra questão naturalmente é se se pretende estar informado. Há pessoas que não o querem, que já sabem tudo antes, sem que tenham estudado o islã.

DW: Quem não quer saber isso?

HK: Por um lado, são os cristãos fundamentalistas, que seguem literalmente a Bíblia e dizem que não precisam das outras religiões. Mas podem ser também pessoas muito secularizadas, dogmáticos do laicismo. Estes já coram quando simplesmente se fala a palavra religião, e acham que sobre isso não se precisa falar na escola. Eles têm dificuldade com o fato de que a religião novamente representa um fator de poder na história mundial.

DW: De acordo com uma pesquisa representativa, o cristianismo não é mais a religião mais simpática aos alemães e, sim, o budismo. Como o senhor interpreta isso?

HK: O budismo é visto no Ocidente como uma religião livre de dogmas, sem muitas prescrições. Trata-se de uma religião voltada para dentro, que dá importância à meditação, que não tem uma imagem demasiado antropomorfa, concreta, da última realidade. O outro fato é que o cristianismo, com sua concentração de poder, irrita muita gente.

Quando temos um papa que aparece o tempo todo, que, como senhor espiritual do mundo, tem a pretensão de que só quem está com ele é um cristão verdadeiro, que somente sua Igreja Católica Romana é a verdadeira igreja, então isso irrita muitas pessoas. E, mesmo que não protestem publicamente, elas se afastam e dizem que não querem ter nada a ver com isso.

DW: Voltemos ao islã. Na pergunta sobre a "religião mais pacífica", o budismo lidera com 43% contra 41% do cristianismo. O islã fica com apenas 11% nesse ranking. O islã é uma imagem do inimigo no Ocidente?

HK: Sim, o islã representa sem dúvida uma imagem do inimigo no Ocidente, visto que o Ocidente só se concentra em determinados pontos do islã. Isso já vale para a história. Os europeus o vêem sob o ponto de vista do avanço do islã do norte da África até a Espanha entre os séculos 8º e 15 e do domínio otomano nos Bálcãs. Mas não se vê nesse contexto que os cristãos não só realizaram as cruzadas, como também colonizaram todo o mundo islâmico, do Marrocos até as ilhas da Indonésia, no século 19.

Daí surgem tensões, muitas das quais o Ocidente não resolveu até hoje. Isso vale sobretudo para as relações entre os palestinos e Israel. Se tivesse sido feito um acordo de paz após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, nunca teria surgido um Bin Laden, nem teriam ocorrido os ataques ao World Trade Center em 2001.

Em vez disso, propagou-se a sensação de que os ocidentais se fixam inclusive na santa Arábia, se instalam no Afeganistão, avançam em todo lugar, de modo que se formam resistências. Obviamente temos de condenar homens-bomba e atentados. Mas é preciso refletir por que tantos jovens estão tão desesperados a ponto de se colocarem à disposição para tais atentados.

DW: A Igreja Católica poderia contribuir mais para a solução desses conflitos e para o diálogo entre as religiões?

HK: É preciso dizer que João Paulo 2º rejeitou claramente a guerra no Iraque, como também o fizeram o patriarca de Moscou, o arcebisto de Canterbury, o Conselho Mundial das Igrejas e o Conselho das Igrejas Norte-Americanas. Não é mais tão fácil entusiasmar as Igrejas para a guerra como era antigamente. Obviamente poderia ser feito mais, sobretudo em termos de esclarecimento.

Se o papa quis classificar o islã como religião violenta, em seu discurso em Regensburg, então ele mesmo notou que esse é o caminho errado. É preciso pensar nos rastros de sangue que os cristãos deixaram na história. Daí se será modesto e não se dirá, "nós temos a religião do amor e eles uma religião do ódio". Também a maioria dos muçulmanos no Egito, no Marrocos e no Afeganistão ou Paquistão quer paz, como eu e você.

DW: O senhor acredita que o papa vê o discurso que fez em Regensburg como um erro? Não se tem necessariamente a impressão de que ele tenha se distanciado claramente do que disse.

HK: Ele notou sim que foi um erro e teve de engolir muita crítica. Ele corrigiu seu discurso diversas vezes. Naturalmente é muito difícil para os romanos, e também para o bispo de Roma, o papa, admitir um erro. Quando se tem uma ideologia da infalibilidade também se comete erros infalíveis, que naturalmente não se pode corrigir. Mas foi evidente que o papa, em sua viagem à Turquia, fez um grande esforço para apagar a má imagem que obteve com o discurso de Regensburg.

DW: Mesmo que o islã na Europa seja visto com ceticismo, mundialmente ele tem uma grande atratividade para muitas pessoas, principalmente para os jovens. Há 1,3 bilhão de muçulmanos e a tendência é que esse número aumente. De Rabat (capital do Marrocos) a Damasco há grupos políticos islâmicos que se tornam cada vez mais fortes. A que se deve isso? Os motivos são religiosos ou sociais?

HK: Ambos. São grupos religiosos que se empenham pelas pessoas. Muitos muçulmanos nesses países têm a sensação de que as elites governantes têm uma vida própria e pouco se importam com o povo. Os grupos fundamentalistas islâmicos – ou como se queira chamá-los – se esforçam muito para fazer algo pelas pessoas. Eles providenciam escolas e educação, dão roupa e alimentação.

Por que o Hamas venceu as eleições? Porque ele se empenhou pelas pessoas. Uma das maiores tolices da política ocidental – aliás, corroborada pela política alemã – foi não reconhecer essas eleições democráticas. Em vez disso, se adverte: vocês precisam reconhecer Israel! Diga isso a pessoas que há décadas são terrorizadas por uma potência de ocupação. Não é dessa forma que se resolvem problemas. Deve-se reconhecer que há partidos que, sob determinadas circunstâncias, têm o islã como base, mas se empenham pelas pessoas.

Um exemplo melhor é o partido do primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, na Turquia. Por que eles venceram? Porque eles se empenharam pelas pessoas. Apesar de todas as fraquezas que eles têm, mostraram que conseguiram avanços enormes para o país e de forma alguma criaram um Estado islâmico como o Irã. Eles querem uma democracia, mas também não querem degradar o islã unicamente à esfera pessoal, como aconteceu sob [Mustafá Kemal] Atatürk, fundador do país.

DW: O senhor certa vez classificou a Turquia como "laboratório da democracia". É possível conciliar fé, religião com democracia?

HK: A religião pode conviver com a democracia. Os principais arquitetos da unificação européia, de Charles de Gaulle e Konrad Adenauer a Robert Schuman e Alcide de Gasperi, eram cristãos praticantes. O fato de o islã no momento ter mais problemas com a democracia do que com o cristianismo, se deve a que, no islã, ao contrário do que ocorreu no cristianismo e no judaísmo, não houve Reforma e Iluminismo – à exceção de alguns círculos. Quem pretende ajudar ali precisa apoiar as forças moderadas e isolar os radicais. A maior tolice é enfrentar essa gente com exércitos. Isso é tão estúpido quanto seria enfrentar a máfia com aviões de combate.

DW: Até que ponto deveria ir então a disposição para negociar com as forças radicais? Seria necessário negociar também com o Talibã e a Al Qaeda?

HK: Com a Al Qaeda você não pode negociar. Isso é uma organização terrorista secreta, que só se pode exaurir. Mas o Ocidente os regou tanto que eles puderam brotar. Os serviços secretos norte-americanos admitiram recentemente, em documentos sigilosos, que a guerra no Iraque ajudou a Al Qaeda. Antes não havia Al Qaeda no Iraque. Com o Talibã, com certeza, se poderia negociar. Eles não são todos loucos. Também lá há extremistas, mas, por outro lado, há entre eles os que advertiram a administração Bush para o 11 de Setembro. Não se levou isso a sério. Houve líderes de clãs no Afeganistão que advertiram contra uma intervenção militar no país.

DW: Para concluir, uma pergunta pessoal: no dia 12 de setembro, o senhor apresenta a sua autobiografia Umstrittene Wahrheit (Verdade Controversa). Fazendo um balanço do seu trabalho sobre etos mundial, o senhor ainda o vê com tanto otimismo como em 1990, quando escreveu o livro sobre o assunto?

HK: Quando escrevi o livro em 1990 tinha-se naturalmente a esperança de que futuramente não se resolveriam problemas com meios militares, agressões, inimizades e guerra e, sim, através da compreensão mútua, da cooperação e da integração – como havia ocorrido no Leste e no oeste da Europa. Isso lamentavelmente foi transtornado pela política desvairada iniciada pela segunda administração Bush, com a ajuda de uma clique de intelectuais judeus ultraconservadores, os assim chamados neocons, e fundamentalistas protestantes.

Não sou inimigo e, sim, um amigo dos americanos. Espero que, apesar desse retrocesso resultante da política de Bush Jr., na América se lembre da grande tradição democrática do país e se tente ser potência líder no sentido da compreensão, da moderação e da paz mundial.

DW: Doeu-lhe o fato de o papa Bento 16 não ter aceito sua idéia do etos mundial?

HK: Em princípio, ele aceitou a idéia. Ele também entende que é preciso haver padrões éticos comuns. Ele admitiu na conversa comigo que estes padrões devem valer na mesma medida tanto para crentes quanto para não-crentes. Era de se esperar que ele pessoalmente encampasse de forma clara essa idéia. Mas, o que ainda não ocorreu, talvez ainda possa acontecer.



O teólogo católico e crítico da Igreja, Hans Küng, ganhou fama como um precursor do diálogo entre as religiões e como fundador do projeto Etos Mundial. Em 1979, o Vaticano cassou-lhe a licença para lecionar Teologia por ter colocado em dúvida a infalibilidade do papa. Em 2005, ele foi recebido por Bento 16 para uma conversa.

Fonte: DW-World

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Field of Innocence [Evanescence]

I still remember the world
From the eyes of a child.
Slowly those feelings
Were clouded by what I know now.

Where has my heart gone?
An uneven trade for the real world.
Oh I... I want to go back to
Believing in everything and knowing nothing at all.

I still remember the sun
Always warm on my back.
Somehow it seems colder now.
Where has my heart gone?
Trapped in the eyes of a stranger.
Oh I... I want to go back to
Believing in everything.

[Latin*]
Iesu, Rex admirabilis
Et triumphator nobilis,
Dulcedo ineffabilis,
Totus desiderabilis.


Where has my heart gone?
An uneven trade for the real world.
Oh I... I want to go back to
Believing in everything.

Oh, Where? Where has my heart gone?
Trapped in the eyes of a stranger.
Oh I... I want to go back to
Believing in everything.

I still remember...


(* - Parte de um antigo hino em latim, Iesu, Dulcis Memoria, atribuído a São Bernardo de Clairvaux, Séc XII)

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Perfeição

"Quem se diz muito perfeito, na certa encontrou um jeito insosso pra não ser de carne e osso". (Zélia Duncan)

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Aqui e agora

"O cristianismo precisa ser bom para a humanidade no presente, não só na vida eterna. Jesus não morreu como um velho rabino na cama, de velhice, mas na cruz, brigando com as forças políticas da época" (Leonardo Boff).

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Certezas e fogueiras

"Todos os que têm certezas estão condenados ao dogmatismo. Se eu estou certo da verdade de minha teoria, por que haveria de perder tempo ouvindo outra pessoa que, por defender idéias diferentes, tem de estar errada? As certezas andam sempre de mãos dadas com as fogueiras" (Rubem Alves).

Isso é fé, o resto é conversa.

"Respiro como se Deus me carregasse a cada instante, mas nunca posso apontar onde está sua mão" (Osvaldo Luiz Ribeiro).

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Interessante...

"Lida propriamente, a Bíblia é a força mais potente para o ateísmo jamais concebida" (Isaac Asimov, escritor).

quinta-feira, 15 de março de 2007