quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Quantum no Século XXI

Por Nilton Bonder, rabino e escritor.

Vivemos num mundo carente de parâmetros no qual há insuficiência de identidades e de elementos que qualifiquem. Há uma crise moral que tem dificuldade em classificar se algo é benéfico ou maléfico, justo ou injusto, permitido ou proibido. Mas se a qualidade anda em baixa, o mesmo não podemos dizer das quantidades. Elas são inéditas - de gente, de consumo, de longevidade, de destruição, de informação e de tudo mais.

Passa desapercebido ao ser humano comum que a quantidade também qualifica. As quantidades representam fronteiras entre distintas qualidades. Diz um ditado: "uma mentira é uma mentira; duas, são mentiras; mas três, é política". Ou como observou W.Minzer: "se você rouba de um autor é plágio; se você rouba de muitos é pesquisa". Plágio e pesquisa ou mentira e política são

sábado, 27 de agosto de 2011

Eu creio na dúvida

Por Osvaldo Luiz Ribeiro, biblista e exegeta.

O título que este artigo leva não deve ser lido como se quisesse dizer “na dúvida, (então) eu creio”. Se quisesse ser lido assim, teria sido escrito assim: “Na dúvida, eu creio”. Se este fosse o título do artigo, escrito assim, então eu estaria dizendo que, na dúvida, é melhor crer. Dizendo isso, isso que eu dissesse poderia ser aplicado a uma série de situações e, principalmente àquela que se costuma remontar à Pascal, da tal aposta. Dois sujeitos comparam suas “fés”, uma, a de um cristão, a outra, não. Se por acaso o não cristão está certo, e daí? Que mal haverá passado, por ser cristão, o cristão? Nenhum, pelo contrário. Mas e se

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O fim da era de Gutenberg

Em entrevista, professor Thomas Pettitt defende que novas mídias levam humanidade de volta à era pré-Gutenberg, da cultura oral.
Por Fernanda Godoy.

NOVA YORK - Thomas Pettitt tem provocado discussão nos meios acadêmicos ao afirmar que a Humanidade está voltando à cultura de transmissão oral de informação e conhecimento, tornando a época da imprensa escrita e dos livros apenas um parêntese na História. Professor de história da cultura na Universidade do Sul da Dinamarca, ele construiu a Teoria do Parêntese de Gutenberg para analisar uma época que teria começado com a invenção da prensa, no século XV, e terminado com a era da mídia eletrônica. "Estamos caminhando para um futuro pós-imprensa", disse ele, para mais adiante acrescentar: "Alguém pode receber uma mensagem escrita quase tão rapidamente como se estivesse falando com a pessoa. É como se estivéssemos falando pelos dedos".

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Por que as religiões rígidas prosperam

Por Judith Shulevitz, da Slate Magazine

Não é coisa fácil explicar porque algumas pessoas submetem-se entusiasticamente à lei religiosa, especialmente quando se está falando com gente que não tem o menor desejo de agir da mesma forma. Por que limitar-se à “teologia do corpo”, como a chamava o papa João Paulo II, quando o controle da natalidade e a pesquisa de células-tronco prometem alívio para duas das mais dolorosas vicissitudes da existência física – a gravidez indesejada e as doenças degenerativas? Porque restringir-se a alimentos kosher, quando o cashrut baseia-se em classificações zoológicas que caducaram milhares de anos atrás?

sábado, 20 de agosto de 2011

Ortodoxos, conservadores e reformistas

Entrevista com Nilton Bonder, rabino e escritor.

Quais as diferenças básicas entre os ortodoxos e não ortodoxos? Como enxerga a sociedade multi-étnica que vem se construindo em Israel? Como conviver com as diferenças? E no Brasil, no Rio, como os judeus religiosos convivem com as diferenças?

A ortodoxia é um produto do mundo moderno tanto quanto os movimentos liberais. É uma reação a transformação profunda do mundo neste último século. A ortodoxia busca o cumprimento fiel dos princípios do judaísmo demonstrando grande intransigência em relação a tudo que é novo. Os não ortodoxos acreditam que é princípio fundamental do judaísmo o próprio processo de mudança e de renovação. A lei judaica é conhecida como halachá, literalmente: "a caminhada". É sobre esta "caminhada" que versam a discórdia entre

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O enigma da monogamia

Por Drauzio Varella, médico e escritor.

Monogamia social é uma coisa, monogamia genética é outra. A social acontece quando dois indivíduos de sexo oposto se unem para formar um casal. Já a genética é a monogamia sexual; para ocorrer, cada membro do par precisa garantir exclusividade de acesso sexual ao outro.

Monogamia social é fenômeno raríssimo entre os animais. Monogamia genética, então, nem se fala. Até nos pássaros que formam pares amorosos, como o joão-de-barro (acusado injustamente de emparedar no ninho a fêmea infiel), o DNA dos filhos muitas vezes não bate com o do pai social.

Na evolução, o enorme esforço exigido na construção do ninho conferiu vantagens reprodutivas aos pássaros que dividiam essa tarefa com suas fêmeas. Os folgados, que deixavam a fêmea trabalhar sozinha, podiam não ter o ninho pronto no momento propício ou serem preteridos por machos mais

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Santos entre taças de vinho

Entrevista com Luiz Felipe Pondé, filósofo e escritor.


Luiz Felipe Pondé, de 52 anos, é um raro exemplo de filósofo brasileiro que consegue conversar com o mundo para além dos muros da academia. Seja na sua coluna semanal na Folha de S.Paulo, seja em livros como o recém-lançado O Catolicismo Hoje (Benvirá), ele sabe se comunicar com o grande público sem baratear suas ideias. Mais rara ainda é sua disposição para criticar certezas e lugares-comuns bem estabelecidos entre seus pares. Pondé é um crítico da dominância burra que a esquerda assumiu sobre a cultura brasileira. Professor da Faap e da PUC, em São Paulo, Pondé, em seus ensaios, conseguiu definir ironicamente o espírito dos tempos descrevendo um cenário comum na classe média intelectualizada: o jantar inteligente, no qual os comensais, entre uma e outra taça de vinho chileno, se cumprimentam mutuamente por sua “consciência social”. Diz Pondé: “Sou filósofo casado com psicanalista. Somos convidados para muitos

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Na mesma moeda

Por Paulo Brabo, escritor.

(...)

Por motivos que terei de abordar em outra ocasião, os cristãos evangélicos fogem do COMUNISMO mais do que o diabo da cruz; dito de outra forma, fogem mais do COMUNISMO do que do diabo, e tendem também a substituir um pelo outro.

O capitalismo de certa forma sempre existiu, sendo devidamente denunciado por todos os profetas, até Jesus (na linguagem dele “vem fácil vai fácil” escreve-se “de graça recebestes, de graça dai”) e depois. O mérito de Marx está em que ele expôs claramente o mecanismo econômico da exploração: demonstrou que no capitalismo todos trabalham um preciso tanto a mais do que deveriam se trabalhassem apenas para merecer o que ganham. Essa “contribuição extra”, essa mais-valia, serve para sustentar o sujeito posicionado acima de cada um na Grande

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Bestices

Por 'Carrie, a Estranha'.

Eu tenho orgulhos bestas. Orgulhos bestas são orgulhos sem razão, sem justificativa. Porque existem os orgulhos-não bestas. Sim, existem. Nem todo orgulho é besta. Orgulho de ter feito um trabalho de qualidade, de ter contribuído para determinada coisa. Eu tenho um orgulho besta de ser quem eu sou. Eu me acho especial. Muito especial. Mais especial do que a maioria das pessoas - e também tenho a sorte e a bênção de ser cercada de pessoas especiais. Eu me isolo num campo gravitacional de pessoas especiais. Por mais na merda que eu esteja, e que eu reclame horrores (e eu reclamo por qualquer coisinha), eu sei, lá no fundo, que tudo vai dar certo, afinal eu sou eu. Porra. Veja bem: não é que eu me ache melhor do que as outras pessoas. Mas eu tenho orgulho de mim, das coisas que eu fiz e faço, das coisas que já enfrentei, das pessoas que eu atraio pra perto de mim, em suma: do que eu me torno a cada dia, a cada instante e do que eu ainda

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Ainda o fundamentalismo

Por Leonardo Boff, teólogo e escritor.

O ato terrorista perpetrado na Noruega de forma calculada por um solitário extremista norueguês, de 32 anos, trouxe novamente à baila a questão do fundamentalismo. Os governos ocidentais e a mídia induziram a opinião pública mundial a associar o fundamentalismo e o terrorismo quase que exclusivamente a setores radicais do islamismo. Barack Obama, dos EUA, e David Cameron, do Reino Unido, se apressaram em solidarizar-se com governo da Noruega e reforçaram a ideia de dar batalha mortal ao terror, no pressuposto de que seria um ato da Al Qaeda. Preconceito. Desta vez era um nativo, branco, de olhos azuis, com nível superior e cristão, embora o The New York Times o apresente “sem qualidades e fácil de se esquecer”.

Além de rejeitar decididamente o terrorismo e o fundamentalismo, devemos