sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Por que os Evangélicos são tão crentes, mas tão feios?

Por Elienai Jr, pastor e escritor.

De tudo o que venho dizendo o que mais ofende aos meus irmãos evangélicos é o que digo com poesia. Quando moleque, ainda tão marcado pelo jeitão carioca, gostava de brincar com as pessoas que não entendiam a ironia. Fazia uma brincadeira, mas os sisudos entendiam tal e qual e se apavoravam, ou se irritavam e partiam logo para uma solução séria ou uma advertência. Percebia a surdez poética e divertia-me sadicamente com as ironias até o limite da paciência. Era o que na época chamávamos de “tirar uma casquinha”, uma molecagem.

A ironia é uma das tantas variações da mesma desistência, a da capacidade de expressar sentidos com as palavras ao pé-da-letra. Mas não uma desistência azeda, o que seria um silêncio lúgubre ou um queixume ranzinza, mas uma desistência bem humorada, leve e despretensiosa. A desistência dos poetas. Daqueles que preferem abrir mão do rigor da comunicação para não terem que ficar sem o prazer da comunhão. Já que nunca consigo traduzir tudo o que sinto e penso em palavras descritivas, divirto-me com as aproximações das metáforas. Modestas, mas cheias de beleza. Tão sugestivas, insinuantes e provocativas. Às vezes, os poetas exageram de tão felizes e se satisfazem apenas com o som das palavras, não dizem quase nada, mas tocam em quase tudo. Tão viçosas e livres dos caixotes semânticos.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O capitalismo é a crise


Os cientistas estão dando à nossa era o nome de Antropoceno, para denotar o impacto sem precedentes que os seres humanos estão exercendo sobre o planeta, impacto que está causando a sexta extinção em massa da história do planeta.

Há mais escravos hoje em dia do que em qualquer outro período da história humana.

Pela primeira vez na história dos Estados Unidos, o total de débito assumido por estudantes (que não entraram ainda no mercado de trabalho) é maior do que o total do débito assumido pelo público consumidor em geral.

Os gastos militares globais alcançaram uma cifra recorde em 2011.

O mundo está morrendo, e os capitalistas estão quebrando recordes de lucro enquanto ele morre.

Michael Truscello, em Capitalism is the Crisis

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Hereges e heresias

Por Ricardo Gondim, pastor e escritor.

Com quantos argumentos se estabelece uma questão? Os nazistas souberam demonizar os judeus, já os comunistas habilidosamente desmontaram a lógica de Hitler. Os americanos organizaram uma estrutura filosófica que justificou o bombardeio sobre o Iraque.

Richard Dawkins escreveu um livro em que criteriosamente procura desmascarar os evangélicos ocidentais. Mas já existem vários livros que denunciam a fragilidade dos argumentos desse ateu belicoso.

E assim se alongam as controvérsias.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Moralistas Imorais

Por Contardo Calligaris, psicólogo e articulista da Folha.

Uma queixa banal e barulhenta repete que a modernidade vai para a perdição. Aliás, parece que já foi: sumiram os valores que orientavam nossos pais ou, no mínimo, nossos avós. Dizem que ficamos como baratas tontas, sem rumo e sem critérios para distinguir o bem e o mal. Pois bem, penso o contrário. A modernidade é uma época profundamente moral, de uma maneira inédita pela forma e pela intensidade.

A novidade é que valores e princípios não são respeitáveis por sua origem. Se foi Deus quem disse ou foram os anciões que nos legaram, tanto faz: de qualquer forma, isso não basta. Cada um de nós, em seu foro íntimo, tem a responsabilidade de decidir o que é certo e o que é errado. Tarefa difícil: visto que recusamos a autoridade (divina ou tradicional) das normas, nosso julgamento é sempre concreto. Claro, adotamos princípios gerais, que são os mesmos de sempre; mas, para nós, a moralidade

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Deus criou a Mulher de que osso mesmo?

Por Gilbert SF e Zevit Z.

Outra condição genética, afetando 100% dos machos humanos, é a falta congênita de um báculo. Enquanto a maior parte dos mamíferos (incluindo espécies comuns como cachorros e ratos) e boa parte dos outros primatas (com a exceção de macacos-aranha) têm um osso no pênis, machos humanos não o possuem e precisam contar com a hidráulica de fluidos para manter ereções. O báculo de um grande cachorro pode ter 10cm de comprimento x 1,3cm de espessura x 1cm de grossura… Báculos humanos já foram relatados, comumente em associação a outras doenças congênitas ou anormalidades do pênis.

Uma das histórias de criação no Gênesis pode ser um mito explicatório onde a Bíblia tenta encontrar uma causa para a qual os machos humanos não possuam este osso particular. Nossa opinião é que Adão não perdeu uma costela na criação de Eva. Qualquer israelita na Antiguidade (ou, se for assim, qualquer criança) deve saber que há um número igual (e par) de costelas tanto em homens quanto em mulheres. Mais do que isso, costelas não possuem

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Pálido Ponto Azul

Por Carl Sagan, astrônomo e escritor.


Dessa distante perspectiva, a Terra pode não parecer significativa. Mas para nós, é diferente. Olhe novamente para aquele ponto. É aqui, nossa casa, somos nós. Nele, todos que você ama, todos que conhece, todos que já ouviu falar, cada ser humano que já existiu, viveu sua vida aqui. O misto de nossa alegria e sofrimento, milhares de religiões autênticas, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e ceifeiro, cada herói e covarde, cada criador e destruidor de civilização, cada rei e camponês, cada jovem casal apaixonado, cada mãe e pai, criança cheia de esperança, inventor e explorador, cada mestre de ética, cada político corrupto, cada celebridade, cada ditador, cada santo e pecador na história de nossa espécie viveu aí - num grão de poeira suspensa num raio solar.

A Terra é um palco muito pequeno na vasta arena cósmica. Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores para que, em sua glória e triunfo, pudessem se tornar senhores momentâneos duma fração desse ponto. Pense nas infinitas crueldades praticadas por habitantes de um canto deste pixel aos quase indistinguíveis habitantes de algum outro canto; quão frequentes seus desentendimentos, quão desejosos de se matar uns aos outros, quão intenso são seus ódios.

Nossas arrogâncias, nossa suposta auto-importância, nossa ilusão de termos alguma posição privilegiada no universo, são desafiadas por este ponto de pálida luz. Nosso planeta é uma partícula solitária numa enorme e envolvente escuridão cósmica. Em nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios de que alguma ajuda virá de algures para nos salvar de nós mesmos.

A Terra é o único mundo conhecido, até então, que pode abrigar vida. Não há nenhum outro lugar, pelo menos no futuro próximo, para o qual nossa espécie possa migrar. Visitar, sim. Colonizar, ainda não. Gostando ou não, por enquanto, a Terra é onde nós temos que nos manter.

É dito que a astronomia é uma experiência construtora de caráter e humildade. Não há talvez melhor demonstração de tolice da presunção humana que esta distante imagem do nosso minúsculo mundo. Para mim, ressalta a nossa responsabilidade de lidar mais amigavelmente uns com os outros, e de proteger e amar o pálido ponto azul, o único lar por nós já conhecido.

Tradução: Marcelo Carahyba