sexta-feira, 1 de abril de 2011

Espiritualidade

Por Chögyam Trungpa Rinpoche
Tradução e adaptação por Marcelo Carahyba

Espiritualidade é um termo específico que, na verdade, significa lidar com a intuição. Na tradição teísta existe uma noção de apego as palavras. Um determinado ato é considerado desagradável ao princípio divino. Um outro é agradável para o divino... enfim. Na tradição não-teísta, contudo, isto é muito direto - de forma que a investigação histórica não é particularmente importante. O que realmente importa é o aqui e o agora. Agora é definitivamente agora. Tentamos experimentar o que está disponível lá, no ponto. Não faz sentido pensar que podemos ter um passado que certa vez existiu.

Isto é o agora: este preciso momento. Nada místico, apenas agora. Muito simples, bem direto. E desta agoridade, contudo, emerge sempre um senso de inteligência de forma que se está constantemente interagindo com a realidade; passo-a-passo. Ponto a ponto. Constantemente. Também experimentamos uma precisão fantástica, sempre. Mas [quando] nos sentimos ameaçados pelo agora, então pulamos para o passado ou para o futuro. Dando atenção a materialidade que existe em nossa vida - esta vida rica que levamos.

[Diversas] escolhas acontecem o tempo todo, mas nenhuma delas é considerada má ou boa em si - tudo que experimentamos são experiências incondicionais. Elas não vem com um rótulo dizendo 'isto deve ser considerado ruim' [ou] 'isto é bom'. As experimentamos porém não damos a devida atenção a elas. Realmente não nos damos conta de que estamos indo para algum lugar. Encaramos isso como aborrecimento. [E] esperamos morrer. Isto é um problema: não acreditar propriamente na agoridade; que é a experiência atual que possui uma série de coisas poderosas. É tão poderosa que não podemos enfrentá-la. Portanto, precisamos pedir emprestado ao passado e convidar o futuro o tempo todo. Talvez seja por isso que procuramos religião. Talvez seja por isso que protestamos nas ruas. Talvez seja por isso que reclamamos com a sociedade. Talvez seja por isso que votamos para presidentes. É bastante irônico... Muito engraçado mesmo.


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