sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Pálido Ponto Azul

Por Carl Sagan, astrônomo e escritor.


Dessa distante perspectiva, a Terra pode não parecer significativa. Mas para nós, é diferente. Olhe novamente para aquele ponto. É aqui, nossa casa, somos nós. Nele, todos que você ama, todos que conhece, todos que já ouviu falar, cada ser humano que já existiu, viveu sua vida aqui. O misto de nossa alegria e sofrimento, milhares de religiões autênticas, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e ceifeiro, cada herói e covarde, cada criador e destruidor de civilização, cada rei e camponês, cada jovem casal apaixonado, cada mãe e pai, criança cheia de esperança, inventor e explorador, cada mestre de ética, cada político corrupto, cada celebridade, cada ditador, cada santo e pecador na história de nossa espécie viveu aí - num grão de poeira suspensa num raio solar.

A Terra é um palco muito pequeno na vasta arena cósmica. Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores para que, em sua glória e triunfo, pudessem se tornar senhores momentâneos duma fração desse ponto. Pense nas infinitas crueldades praticadas por habitantes de um canto deste pixel aos quase indistinguíveis habitantes de algum outro canto; quão frequentes seus desentendimentos, quão desejosos de se matar uns aos outros, quão intenso são seus ódios.

Nossas arrogâncias, nossa suposta auto-importância, nossa ilusão de termos alguma posição privilegiada no universo, são desafiadas por este ponto de pálida luz. Nosso planeta é uma partícula solitária numa enorme e envolvente escuridão cósmica. Em nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios de que alguma ajuda virá de algures para nos salvar de nós mesmos.

A Terra é o único mundo conhecido, até então, que pode abrigar vida. Não há nenhum outro lugar, pelo menos no futuro próximo, para o qual nossa espécie possa migrar. Visitar, sim. Colonizar, ainda não. Gostando ou não, por enquanto, a Terra é onde nós temos que nos manter.

É dito que a astronomia é uma experiência construtora de caráter e humildade. Não há talvez melhor demonstração de tolice da presunção humana que esta distante imagem do nosso minúsculo mundo. Para mim, ressalta a nossa responsabilidade de lidar mais amigavelmente uns com os outros, e de proteger e amar o pálido ponto azul, o único lar por nós já conhecido.

Tradução: Marcelo Carahyba

2 comentários:

Priscila disse...

texto curto e absurdamente gigante!!!

Marcelo Carahyba disse...

Essa imagem e esse texto me fizeram chorar e arrepiar. Percebemos o quão inútil e despropositada é nossa sede de poder, nossos egoísmos e nossas brigas. Somos todos um. Num único lugar. Num lugar único.