Por Elienai Jr, pastor e escritor.
De tudo o que venho dizendo o que mais ofende aos meus irmãos evangélicos é o que digo com poesia. Quando moleque, ainda tão marcado pelo jeitão carioca, gostava de brincar com as pessoas que não entendiam a ironia. Fazia uma brincadeira, mas os sisudos entendiam tal e qual e se apavoravam, ou se irritavam e partiam logo para uma solução séria ou uma advertência. Percebia a surdez poética e divertia-me sadicamente com as ironias até o limite da paciência. Era o que na época chamávamos de “tirar uma casquinha”, uma molecagem.
A ironia é uma das tantas variações da mesma desistência, a da capacidade de expressar sentidos com as palavras ao pé-da-letra. Mas não uma desistência azeda, o que seria um silêncio lúgubre ou um queixume ranzinza, mas uma desistência bem humorada, leve e despretensiosa. A desistência dos poetas. Daqueles que preferem abrir mão do rigor da comunicação para não terem que ficar sem o prazer da comunhão. Já que nunca consigo traduzir tudo o que sinto e penso em palavras descritivas, divirto-me com as aproximações das metáforas. Modestas, mas cheias de beleza. Tão sugestivas, insinuantes e provocativas. Às vezes, os poetas exageram de tão felizes e se satisfazem apenas com o som das palavras, não dizem quase nada, mas tocam em quase tudo. Tão viçosas e livres dos caixotes semânticos.