Por Paulo Brabo
Que nada na vida nos pertence deveria ficar claro pela facilidade com que podemos perder tudo.
Nossa vida, senhoras e senhores, resume-se à nossa própria carcaça e uma malinha de roupas: literalmente, aquilo que podemos carregar. Todo o resto, quer sejam pessoas ou coisas, tem marcadas em si mesmas o status terrível de temporário; Deus, o destino, a iniciativa dos outros ou nossa própria incompetência podem levá-los para irremediavelmente longe a qualquer momento.
Haverá um momento, asseguram-me ainda, em que até mesmo a carcaça será tirada de nós, e então a malinha de roupas não nos terá finalmente qualquer utilidade. Até lá parece prudente amar as pessoas e fazer uso das coisas sem apegar-se nem a uns nem a outros, porque não nos pertencem e a vida pode querer deixar isso muito claro pelo menos uma vez.
A privação total e a solidão absoluta não deveriam de fato nos surpreender; o milagre é que tenhamos tido, em algum momento, alguma coisa. A súbita pobreza de Jó não deveria nos parecer especialmente notável; surpreendente, na verdade, é que tenhamos sido felizes.
Fonte: A Bacia das Almas
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